sábado, 31 de maio de 2014

Coisas, coisas...

As coisas se amontoam naquele quarto, com cheiro de mofo e com sonhos adormecidos. Blusas, brincos, livros, perfumes, bolsas... O cômodo lotado, a alma vazia. Não exatamente vazia, talvez cheia de ideias esquisitas, música, poesia e dúvidas. Quanto mais se tem, menos se quer. Por mim, fugir. Pois ter demais cansa. Tanto objetos quanto pensamentos.

sexta-feira, 11 de abril de 2014

Costume

Tudo nessa vida é costume.

Lembro de quando tinha 14 anos e simplesmente odiava arrumar minha cama ao acordar. Geralmente deixava tudo bagunçado, pois sabia que enquanto eu estivesse na escola, a funcionária da minha casa chegaria e arrumaria tudo. E era isso que sempre acontecia. Até que ela começou a faltar muito. Então eu deixava a cama bagunçada, e quando chegava, ela ainda estava bagunçada.
No começo não achei que fosse durar, talvez ela só estivesse doente... Então continuava deixando a cama desarrumada. Mas os dias foram passando e ela  não voltou. Então, comecei a arrumar minha cama sempre que acordava. Assim, se ela não aparecesse naquele dia, não teria a triste surpresa de chegar e ver tudo bagunçado depois de um dia cansativo na escola.

Hoje em dia, arrumar minha cama ao acordar é algo tão automático, que é muito difícil haver um dia em que eu não a ajeite. A funcionária antiga se desligou da minha casa, uma nova funcionária veio, e eu continuo arrumando minha cama todas as manhãs. Já tenho o costume. Algo que eu achava tão sacal, tão "perda de tempo", hoje em dia faz parte da minha rotina e eu até encontro prazer nisso, arrumando da maneira que mais me agrada e deixando meu quarto com um aspecto limpo. Por isso digo: tudo nessa vida é costume.

Comer verduras e frutas é costume, limpar sua sujeira é costume, arrumar sua cama é costume, ser gentil é costume, estudar diariamente é costume, acordar cedo é costume. Só que muitas vezes, não estamos dispostos a sair da nossa zona de conforto para inserir um novo costume na vida. Por exemplo, no caso da cama. Se não fosse a funcionária faltando, talvez eu não tivesse aprendido esse costume que hoje considero benéfico pra mim. Não queremos sacrificar 30 min do sono pra instalar o costume de acordar cedo, não queremos sacrificar o tempo que perdemos na internet pra instalar o costume de estudar num mesmo horário todos os dias. Às vezes é preciso que haja algo que nos puxe, algo nada delicado que nos tire da zona de conforto, porque (claro que há exceções, e tenho grande admiração por essas pessoas. Trabalho meu interior para um dia ser como elas) não somos muito compromissados conosco. 

Mas esses pequenos sacrifícios que fazemos para instalar costumes na nossa vida só serão sacrifícios por um tempo. Depois passaremos a ver aquilo como parte da nossa vida e encontraremos prazer nesses momentos! Então, acho que precisamos tentar. Se esse costume vai ser benéfico para mim, preciso tentar colocá-lo na minha vida. Assim, poderei encontrar o equilíbrio que desejo, e isso me auxiliará a caminhar por essa vida mais certa, mais preparada. E com isso, posso cumprir melhor o meu papel durante essa jornada na Terra. Se crio um hábito de estudar todos os dias, estou encontrando o equilíbrio nos meus estudos e aprendendo para ajudar outros com minha profissão no futuro. Se crio o hábito de me alimentar bem, estou cuidando de mim mesma para que possa estar saudável para cumprir meu papel. Se crio o hábito de pensar duas vezes antes de falar besteiras, estou poupando as pessoas de se sentirem magoadas por mim, mesmo que não seja a intenção.

Enfim, acho que tudo nessa vida é costume. E acho que podemos criá-los e trabalhá-los para desenvolvermos nosso ser interior e nossas habilidades. Precisamos tentar, sair da zona de conforto, pois até estar na zona de conforto é costume. Se você tenta sempre sair dela, isso vai virar um costume também. E você vai sempre querer desenvolver algo novo em você!

terça-feira, 18 de março de 2014

Sobre a poesia

"Quem faz um poema abre uma janela.
Respira, tu que estás numa cela abafada,
esse ar que entra por ela.
Por isso é que os poemas têm ritmo
- para que possas profundamente respirar.
Quem faz um poema salva um afogado."

Mário Quintana

quinta-feira, 13 de março de 2014

Se ao menos eu pudesse voltar
Se pudesse te explicar
Os motivos pelos quais
Eu não fiquei

Talvez as coisas hoje
Não fossem
Tão fora de lugar
E eu estivesse em par
Contigo

Se ao menos teus desejos
Fossem como os meus
Se eu pudesse
Ler teu silêncio

Quem sabe se você
Pensasse como eu
Talvez as coisas
Dessem certo

Mas já não sou
Mais eu
Pois hoje percebi
Que você me fez
Desconhecida

E mesmo se você
Não lembrar mais de mim
Serás pra sempre
Marca permanente
Em minha vida

segunda-feira, 10 de março de 2014

Leveza

Ultimamente tenho tido sede de leveza. Como é desgastante essa mania do meu espírito de contextualizar tudo em uma problemática existencial, criar pequenas filosofias, ver mil maneiras distintas de interpretar cada coisa, me analisar constantemente. É que minha alma humana mazelada (como muitas outras, se não todas as almas) gosta de complicar a vida... Talvez para diminuir o impacto da ignorância a respeito de seu sentido. Tão real, tão agora, tão fluido.

A sede de leveza que tenho sentido me fez imaginar como devemos deixar que as coisas simplesmente sejam. Não sempre, pois é importante que nos questionemos, que sejamos profundos vez ou outra. Mas esse excesso de profundidade, que muitas vezes nos faz pensar sermos "superiores" de alguma forma, acaba por nos tornar infelizes, duvidosos, incertos e cinzas. É preciso deixar que as coisas aconteçam, ser mais leve, rir de si, rir com o outro, baixar os ombros, relaxar o corpo, dançar estranho, cantar gritando... Sem porquê. Sem expectativas. E isso não significa deixar a vida levar, não tentar ser melhor, não sonhar e planejar. É fazer tudo isso guardando sua integridade, sua felicidade e espontaneidade. Sendo fiel a si mesmo. Como o que li hoje:

"É necessário ser leve como o pássaro, não como a pluma. A pluma flutua, um voo sem propósito, sem direção, sem desafios. Os pássaros riscam o ar com precisão, colocam a leveza a serviço do existir."

sexta-feira, 7 de março de 2014

Humildade

Tanto que fazer!
livros que não se lêem, cartas que não se escrevem,
línguas que não se aprendem,
amor que não se dá,
tudo quanto se esquece.

Amigos entre adeuses,
crianças chorando na tempestade,
cidadãos assinando papéis, papéis, papéis...
até o fim do mundo assinando papéis.

E os pássaros detrás de grades de chuva.
E os mortos em redoma de cânfora.

(E uma canção tão bela!)

Tanto que fazer!
E fizemos apenas isto.
E nunca soubemos quem éramos,
nem pra quê.

Cecília Meireles

Deus Sopra

Deus sopra.
Sopra vento que traz palavras, mensagens escondidas em coisas pequenas.
Sopra em rosas que perdem raízes e voam às mãos de pessoas distantes decepcionadas com o amor.
Sopra pessoas que saem de casa para servir sopa no inverno frio.
Sopra músicas nos ouvidos tristes de quem não descobriu a vida,
Inspiração na mente inquieta dos grandes artistas,
Em mentes pensantes que mudam o mundo.
Sopra pessoas certas, em horas certas, com palavras certas.
Sopra eu e você, por aí.
Eu sou sopro? Tudo é sopro.
É que muito se perde por falta de habilidade para sentir...